Amada
- Chouse
- 9 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de abr. de 2022
Autor: P.C. Cast & Kristin Cast
Edição: Saída de Emergência, 2019
ISBN: 9789897731617

Tendo crescido com a Casa da Noite e tendo uma fascinação pela mistura de vampiros, lendas nativo-americanas, os cinco elementos e uma deusa grega que assola os 12 livros que preenchem a minha estante, nada me entusiasmou mais do que, nas minhas explorações na Bertrand Online, ver que a dupla Cast tinha criado uma saga de continuação. Claro que o adicionei automaticamente à minha lista de Natal.
O livro que inicia a nova saga Casa da Noite: Outro Mundo segue a mesma divisão e organização narrativa que a segunda metade da primeira coleção da Casa da Noite. Cada capítulo segue uma personagem diferente na terceira pessoa, com um narrador omnisciente, tirando os capítulos da protagonista, Zoey Redbird, que narra na primeira pessoa.
Embora a história da Zoey Redbird tenha sido acabada (com 12 livros, não havia muito mais que arrastar), Kristin e P.C. Cast decidiram juntar um toque de ficção científica ao pote de mistura sobrenatural que já existia. Passado um ano depois da derrota de Neferet, a vilã na Casa da Noite, uma nova ameaça é profetizada por Kramisha e Afrodite. Na tentativa de a impedirem, Zoey e o seu círculo acabam por a concretizar, abrindo um portal para um outro mundo. Um mundo onde os vampiros vermelhos se assemelham mais ao Drácula e não a bruxas, onde Jack continua vivo e onde o irmão de Zoey, Kevin, é um vampiro vermelho que chora uma Zoey morta. No geral, é um mundo alternativo governado por Neferet.
A organização do livro ajuda no desenvolvimento de muitas personagens que, se o livro fosse sempre narrado por Zoey, não seriam tão desenvolvidas. Podemos ver o exemplo de Stark que na primeira saga teve um melhor crescimento, pois haviam capítulos que seguiam o que ele sentia. Dito isto, prefiro os capítulos na terceira pessoa. Os que são dedicados a Zoey fazem recurso ao partir da quarta parede (breaking the fourth wall); este recurso funciona lindamente em comédia, como em Deadpool, mas não faz sentido numa fantasia/ficção científica; retira violentamente o leitor da história e deixa de estar envolvido. A pré-introdução ao estilo teatral ajudou na compreensão da história. Não é algo que seja necessário, dado que as informações sobre as personagens são desenvolvidas na trama, mas, para quem já leu os “primeiros” 12 livros há éons, é uma cábula bem-vinda para podermos refrescar os browsers cerebra sobre quem são e quantas são as personagens.
Por falar em personagens, embora as personagens estejam diferentes, como Zoey estar mais segura nas suas decisões, este livro não apresenta muitas evoluções de personagens para além de Afrodite e Damien. Acredito que como o avançar da narrativa isto vá mudar, especialmente atentando na relação de Zoey com o Kevin que pode transbordar para o “nosso” mundo. No entanto, o desenvolvimento de Afrodite e Damien foi uma surpresa. As autoras focaram-se em aspetos das personagens que previamente apenas tinham aludido, como a relação de Afrodite com os pais abusivos e a depressão de Damien depois do namorado morrer. Até mesmo os porquês de Neferet ter um ódio a humanos, resultado de abusos sofridos em criança. Enquanto leitora, preferia que estes assuntos, que criam mais profundidade nas personagens, fossem mais predominantes e melhor desenvolvidos (Afrodite largou os seus vícios do dia para a noite!).
Este é um problemas do livro que me chateia. Muita ação e pouco foco nas personagens. Estas parecem apenas figuras que sofrem a narrativa e não “pessoas” com problemas e esperanças que avançam a trama. Muitos dos traumas que sofrem podiam ter efeitos mais duradouros do que apenas algumas páginas ou parágrafos. Há muito «contar o que se passa», voando pela parte da ação, e não «mostrar». Um exemplo disso são os novos iniciados e vampiros vermelhos que são canibais e mais descontrolados do que os iniciados vermelhos “normais”; mas, para iniciados que chacinaram grupos de humanos, foram bastante fáceis de derrotar, alguns deles suicidando-se (que, outra vez, seria interessante perceber os efeitos na saúde mental nestas personagens) e outros aceitando que voltaram ao normal, e os efeitos na comunidade humana e vampírica não pareceram devastadores.
Regra geral, é um bom escapismo, a verosimilhança perde-se, principalmente para jovem adolescentes que podem começar a desenvolver um gosto pela leitura. Se existisse um aprofundamento dos traumas e problemas mentais, bem como um melhor demonstrar de emoções, acredito que esta saga poderia ser uma melhoria da primeira. O que faria sentido, dado que as personagens já são adultas. Assim, poderia captar a atenção de novos leitores que não cresceram com A Casa da Noite e manter a atenção dos que cresceram e que são, atualmente, adultos que podem não se prender unicamente a escapismos, principalmente numa sociedade em que predomina cada vez mais a importância e a existência de problemas de saúde mental.
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