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Sempre Vivemos No Castelo

  • Foto do escritor: Chouse
    Chouse
  • 4 de jan. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de abr. de 2022

Autor: Shirley Jackson

Edição: Cavalo de Ferro, 2018

Língua: Português

 

Às vezes entramos numa livraria com um livro em mente, não o encontramos e acabamos por ver outro em promoção pelo mesmo autor. Às vezes perguntamo-nos: “O que me interessa mesmo é o livro ou o autor?”. A Maldição de Hill House, desde o filme de 1999, que me fascina e não só por ser um horror ou gótico, mas pelo facto de a autora integrar nas suas obras aspetos psicológicos que trazem uma profundidade vívida às suas personagens. Assim, a resposta a esta pergunta que me surge diante das prateleiras das promoções foi facilmente respondida. O que me interessa é a autora.

Sempre Vivemos no Castelo foi a última obra da autora e segue a história trágica dos Blackwoods dos quais só restam, depois de um jantar envenenado, três membros: o tio Julian e as irmãs Constance e Mary Katherine “Merricat”, esta sendo a nossa narradora.

Desde a primeira palavra que percebemos que Merricat, de 18 anos, tem algum tipo de doença mental. Comportamentos obsessivos-compulsivos que a fazem sentir-se segura da maldade das pessoas da aldeia, uma personalidade meio infantil e uns pensamentos macabros que são constantemente combatidos com pensamentos positivos. “Gosto da minha irmã Constance, de Ricardo Coração de Leão e do Amanita phalloides, o cogumelo da morte.”. É bastante protetora da sua irmã que tinha sido acusada do homicídio da família e que, devido ao escrutínio da aldeia e os seus ataques verbais e, por vezes, físicos da aldeia, desenvolveu-se uma grave agorafobia (o medo de pessoas), não saindo de casa “... sentou-se por fim desconfortavelmente próxima de Constance que, para além de mim, detestava ter quem quer que fosse perto dela.”; a não ser para o seu jardim. Constance também apresenta sinais de trauma; não deixa mais ninguém cozinhar de forma a evitar outra infelicidade. Julian é outra personagem assolada por problemas mentais, aqui, causados por sequelas do envenenamento, dado que foi a única pessoa a consumir o veneno e sobreviver.

No capítulo 4, é quando a dinâmica familiar é ameaçada pelo primo Charles que engana Constance, de forma a ficar com a propriedade e o dinheiro dessa parte da família. As travessuras de Merricat são o catalisador para a verdadeira personalidade de Charles, o lado manipulador, narcisista e avarento, se revelar aos poucos até que incita os aldeões a pegar fogo à mansão de Blackwood. No fim da narrativa é quando percebemos que afinal a pessoa que matou a família foi Merricat, aos 12 anos, e que Constance sabia, protegendo-a sempre. No final, ambas se isolam por completo, e os aldeões têm um arco de redenção, levando provisões como pedido de desculpa.

Jackson assenta bastante da sua narrativa no show, em vez do tell, nunca dizendo o que cada personagem tem e deixando o leitor chegar a uma conclusão. Associa simbolismos a cada personagem, por exemplo, Merricat gosta de enterrar coisas, revelando o seu carácter destrutivo, e Constance gosta e plantar, revelando que nunca poderia ser a assassina. Isto é possível, pois Jackson, não só neste livro, mas em toda a sua obra, adiciona algo importante, que falta nalguns livros: psicologia. Todas as decisões das personagens e a forma como interagem são regidas por lógicas psicológicas e não para avançar a narrativa, o que perfaz uma narrativa mais cheia e vívida.

O estilo de escrita leve e a evocação de cores para criarmos uma imagem mental nítida torna a leitura rápida, imersiva e deveras prazerosa para uma tarde de verão ou de inverno quando a preguiça se apodera dos nossos corpos e procuramos algum escapismo para passar o tempo.

 





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