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O Príncipe Cruel

  • Foto do escritor: Chouse
    Chouse
  • 20 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de ago. de 2021


Autor: Holly Black

Esta edição: 20|20 Topseller, 2020

Língua: Português.

 

O Príncipe Cruel é o primeiro volume da trilogia O Povo do Ar, de Holly Black, que saiu, originalmente, em 2018. O livro é dividido em dois «livros» e capítulos; tirando o prólogo, que é narrado de forma omnisciente, o livro tem um narrador autodiegético.

A história segue a perspetiva de Jude Duarte que, com a irmã gémea Taryn e irmã mais velha Vivienne, vê os seus pais serem mortos por Madoc, um general fae e pai biológico de Vivienne. Elas crescem em Elfhame, a terra da fadas, numa posição mais poderosa do que os mortais costumam ter nessa sociedade. Jude e Taryn lutam com duas vertentes de si próprias: as raparigas que viram os seus pais assassinados e que são alvos fáceis para fadas; as raparigas que querem estar completamente integradas nos círculos nobres, por caminhos diferentes, e que aprenderam a gostar de Madoc. Vivienne é o oposto. Uma fae que quer ser humana e que, inclusive, namora com uma rapariga humana.

Jude é torturada por Cardan, o filho mais novo do rei de Elfhame, e pelo seu grupo de amigos. Como tal Jude aspira poder derrotar Cardan e tornar-se uma cavaleira para o exército no Torneio de Verão, mas não consegue a aprovação de Madoc para o fazer. No entanto, sabendo da dificuldade de saber ler as mentiras dos mortais e vendo a ferocidade de Jude com a espada, Dain, o terceiro filho do rei, oferece-lhe um lugar na Corte das Sombras, uma espiã. Jude aceita de bom grado, em troca de uma geas, um feitiço, de proeção contra os encantamentos de fadas, e começa a balançar as aulas e os confrontos com Cardan, o namoro com Locke, um dos amigos do primeiro, os treinos com Madoc e os treinos e missões da Corte das Sombra. Tentando combater o medo de ser mortal e a sua fragilidade Jude começa a tentar criar resistência a venenos e começa a matar fae, tanto em missões como defesa pessoal.

Existe uma sub-narrativa de intrigas da corte sobre a mãe de Locke, que era amante do rei e de Dain, Oak, o irmão mais novo adotivo de Jude e filho de Dain, e Balekin e a sua sede de poder que acaba por resultar no assassinato de toda a sua família exceto Oak e Cardan. Faz-me lembrar, de certa forma, sobre a Marca de Kushiel, de Jacqueline Carey, nesta linha da historia.

O livro acaba com Jude a trair Cardan, tornando-o rei, Madoc, que apoiava Balekin, e enviando Oak com Vivienne para o reino dos mortais até ter idade para ser rei.

Há alguns pontos na narrativa e na escrita que deixam a desejar.

Existem problemas na primeira regra dourada da escrita : show, don´t tell (mostra, não contes). Black conta muito as emoções que Jude está a sentir e não mostra, isto faz com que não se crie uma conexão com as personagens. Não senti o mesmo e a ambição de Jude porque não vi o medo e a ambição de Jude. Isto está relacionado com o facto de as personagens estarem subdesenvolvidas. As fadas, sendo seres tão cruéis que gostam de brincar com humanos e fazê- -los sofrer, não foram muito apresentadas com estes traços. Quando apareceram, como Valerian (membro do grupo de Cardan) e Balekin, eram mais violentas do que cruéis. Existe um caso, Locke, que é diferente e que irei referir a seguir. Cardan também não foi muito bem desenvolvido, embora possa dar a abébia de estarmos a ler a perspetiva de Jude. Cardan acabou por estar apaixonado por Jude, nota-se alguns indícios disso, como possuir sal, algo tóxico para as fadas, e utilizá-lo para salvar Jude da influência de fruta de fadas, mas, no geral, parece muito repentino, principalmente o interesse de Jude em Cardan, que apareceu páginas depois de ter terminado com Locke. Cardan é uma personagem problemática, sendo quase a epítome de ‘bad boy’ que é mauzinho para a rapariga, porque gosta dela. Tem alguma vulnerabilidade, sendo um veículo para Balekin descarregar frustrações e sendo afastado por toda a família, mas é impossível senti simpatia quando é algo que só aparece no final e não durante o decorrer do livro.

A relação de irmãs entre Jude e Taryn também podia ter tido mais profundidade. Taryn esteve a namorar com Locke enquanto este estava com Jude, nalgum jogo que ele jogou com esta. É justificável por ser uma fada, neste universo, mas a falta de interação entre Jude e Taryn e Jude e Locke e demonstração de sentimentos torna esta traição um momento muito dececionante. Não existe profundida de personagens e relação suficiente para ter o efeito pretendido no leitor, sentir dor de Jude e perceber a justificação de Jude se ter voltado para o Cardan.

Jude é, também, uma protagonista «básica». Não tem muitos obstáculos para ultrapassar e não existe uma evolução da personagem positiva ou negativa. A referência dos venenos não foi utilizado a não ser no final com Madoc, e não o matou, as mortes foram só duas, as missões também. Para alguém que diz «se não posso ser melhor do que eles, torno-me pior», não há muito «pior» na história por onde pegar. Certos momentos que deveriam ser marcantes para Jude não o foram, tiveram uma ponderância de uma página ou duas. O choque e horror sentido quando uma escrava humana foi salva só para se suicidar foi rapidamente esquecido.

Regra geral, as personagens parecem menos personagens com esse intuito e mais meios para avançar o enredo. Taryn e Locke: juntam Jude e Cardan; Dain e família real: morrerem para Cardan ser rei e gerarem Oak; Oak: coroar Cardan; Vivienne: levar Oak para a terra dos humanos; Valerian: demonstrar a «crueldade/frieza» de Jude.

A coerência gramatical da frases é questionável, há presentes misturados com passados, embora não saiba se é um erro de tradução ou não.

Gostei, no entanto, das características que as fadas têm. Para alguém que cresceu com As Crónicas de Spiderwick, é bastante fácil de colocar esta obra no mesmo mundo fictício dos irmãos Spiderwick. É mais sombrio, é um livro para um público mais velho, mas é facilmente justificável dizer que os Spiderwick que não tiveram acesso completo às políticas das fadas e tiveram sorte com os fae que encontraram.



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